Aquela tarde eu havia decidido: não deixaria a fraqueza se
apoderar. Saí pelo portão a procura de uma imagem, uma flor que me prendesse a
atenção. Eu procurei distração nos olhares, mas estes passavam apressados assim
como os pés dos caminhantes. Uns revelavam medos, outros excitação. Procurei
distração nas vitrines, nas mercadorias que o vidro recém limpado deixava
transparecer, mas foi em vão. Olhar aquilo me lembrava consumo, e pensar em
capitalismo não era o que eu precisava naquele exato momento. Eu queria
libertação. Da gravidade, da minha raça. Eu queria ser nada dentro de tudo. Por
um momento eu queria que o meu problema maior fosse como o daquela criança que
vi, que chorava porque seu doce acabou. Mas aquilo ainda não me prendia, algo
sempre me fazia retornar à minhas fraquezas. Continuei caminhando, tomando
certa distância do centro. Entrei em uma rua que cri nunca ter entrado antes. A
largura da mesma, que era reta e sem saída parecia ir diminuindo, junto com a
quantidade de casas. Mas nada ainda. Fui andando, os pés protegidos pelo tênis
gritando por um pouco de espaço. O fim daquela rua que por instantes me pareceu
infinita estava a poucos passos. Até que algo me fez virar o olhar. Parei de
caminhar por algum tempo, não sei dizer ao certo quanto. Os pensamentos
fugiram. Minha mente oca. Voltei a andar, o silêncio agora parecia mais forte e
meus passos ecoavam. Não podia ser, eu não poderia estar vendo aquilo. Agora eu
estava a cinco passos, quatro, dois... ...Uma dor terrível me atingiu, aquele
era o meu nirvana, e ao encontrá-lo meu coração não quis me dar a glória. Eu
não tive tempo, eu digitei uma mensagem no meu celular ainda, deixei-o aberto.
Pedia para que jogassem aquela flor que estava a mais nenhum passo de mim junto
com meu corpo. O que me acalmava é que ela iria me pertencer, de qualquer
jeito. Agora a gravidade não exerce mais força alguma, ninguém exerce mais
força alguma. Respirar se tornou complicado. Uma mão me balança, mas meus olhos
pesam. “Acorde, acorde. Está tendo um pesadelo menina?”. Abri os olhos, eu
estava de novo em meu quarto presa por minhas fraquezas. Aquele florista, seu
estúpido lírio vermelho, nunca, nunca me pertencerá.
todos nós temos os nossos espinhos, mas eles não nos impede ao menos de sonhar. Bela prosa!
ResponderExcluirAbraço!
Concordo plenamente!
ExcluirMuito obrigada e obrigada por seguir! *-*
Outro!