segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A sabedoria é aderente ao anonimato.

Os anos passam. Eu e meu cachorro não somos mais convidados para festas de crianças. E se somos, não recebemos a lembrancinha divertida, e nem vamos ao bexigão. Os anos passam e nem sei mais quantos anos tenho. Passam semanas, meses, anos e é como se a imagem que vejo sempre se repetisse, um circulo vicioso de mesmices e chás das cinco. O garoto ainda joga o jornal no canto errado da varanda, e o carteiro ainda só trás contas, e raramente, alguém se recorda de mim. Nos domingos, coloco minha melhor roupa, e preparo minha melhor refeição e acolho meus netos, filhos e bisnetos. E por horas, esqueço da solidão. Então eles vão embora, e fico sozinho de novo. Sento-me na poltrona, e passo o resto da noite dormindo em frente à TV que transmite Fantástico. Já sei em pormenores como é “o show da vida”, assisto a tudo aquilo e confirmo com a cabeça por cada evidência que tinha de como seria o futuro e de como as coisas vão hoje. Até que chega uma hora em que minha vida torna-se cada vez mais difícil de levar, fatigante de sobreviver. E meus olhos se fecham, e só me resta agora o buraco na terra, o eterno anonimato.

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