domingo, 3 de março de 2013

Um idiota na montanha.

Achavam estranho ele falar das estrelas, do seu brilho e do contraste do negro céu e os pontos brancos. Achavam estranho quando ele dizia que cria no amor e que amava a tudo incondicionalmente, mesmo aquilo que não pudesse ter. Achavam estranho quando ele dizia que tolos são só aqueles que vivem na lucidez. Mas no entanto, enquanto todos tinham algo pra achar a seu respeito, ele continuava falando das estrelas, crendo no amor incondicionalmente, sendo lúcido em sua condição chamada de loucura... E ele viveu, como um idiota na montanha, observando os que se diziam espertos andar pelas terras baixas. Mas no fundo ele sabia que o céu era seu... Porque o único limite que ele imponha era o morrer enquanto ainda se vive.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Relatos de Anny - XI


Os dias estão recobrando seu modo feliz de acontecer.              Edgar continua sendo meu jardineiro e meu amor adolescente, minha paixão de anos atrás. Comecei a trabalhar com algumas crianças em meu consultório de psicologia (já o havia comentado?). Os seus problemas tão pequenos e tão significativos. Elas não se usam de expressões gastas para demonstrar o que as incomoda, e isso me alucina. Algumas apresentam traumas em relação à família, outras não são tão bem aceitas na escola onde estudam. Recolho a todas com a mesma atenção que uma criança cede a um brinquedo novo. Ao contrário dos adultos, elas não se preocupam em ter erros em suas frases, elas não as formulam. Elas falam o que sentem, elas gritam e eu as fico observando. O olhar exasperado da mãe ao filho que chora ali na sua frente, sem ela nada mais poder fazer. Eu nada digo, ou talvez o êxtase do momento me livre do incômodo de possuir uma memória extremamente inquieta para com coisas ruins e me poupe de me recordar de qualquer besteira dita. Todos os dias eu ganho filhos adotivos, no coração. Mas voltando a Edgar, não sei se posso ser mais feliz. Ontem, eu já havia me deitado quando a campainha tocou. Era ele, com um ramalhete em suas mãos. “De nada valeria eu tentar fechar os olhos com saudade tamanha em meu peito”. Seus olhos brilhavam, minha voz me traía e nada pude dizer. Fiz um gesto que entrasse, esquecendo-me de que estava de vestes de dormir. Mas eu não me importaria se lembrasse, pois nada físico mudaria aquela situação tão mágica. Ele entrou e o chamei para sentar-se a mesa. Ofereci-lhe algo para beber e consentiu, mas o que lhe coloquei no copo permaneceu ali. Seus olhos me seguiam, até mesmo quando o copo eu levava a boca. Era como estar em uma vigilância, onde qualquer sinal de insatisfação me entregaria. Mas eu não podia disfarçar o quanto suas surpresas me fraquejavam. A noite continuou, minha felicidade também. O que não continuou foi a distância entre nós, cada vez mais reduzida, e mais, e mais...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nasce um poeta.

Morre um solitário e nasce um poeta. Deitado sobre as palavras, mas com insônia devido aos versos. Nasce aquele que sofre por ter seu corpo sujeito à gravidade, mas que tem ao mesmo tempo o conhecimento de que seus pensamentos são livres. Seja em um por do sol, em um anoitecer ou até mesmo em um sorriso, nasce o poeta. E então conhece-se o devoto dos sonhos, do amor, das dores. Conhece-se o sedento por carinho, compreensão, segurança. Nasce aquele que dedica suas tardes aos caminhos que poucos percorrem, aos pequenos gestos, aos pequenos erros que comete e vê cometer. Nasce quem poucos enxergam e apreciam, mas que todos no fundo são. Na brevidade de uma rima, ele nasce. E traz consigo o peso de emocionar. Nasce o vendedor de ilusões, que se prende e se perde no cheiro dos livros, na cor e nos rodapés das páginas. Nasce o poeta, que não satisfeito com o calor dos abraços, cria versos que acolhem, que esquentam, que confortam. No curto espaço de uma vida nasce um ser imenso que é o poeta. Nasce o imortal, que eterniza seu nome quando assina suas poesias. Nasce o poeta.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Ramalhete de fraquezas


Aquela tarde eu havia decidido: não deixaria a fraqueza se apoderar. Saí pelo portão a procura de uma imagem, uma flor que me prendesse a atenção. Eu procurei distração nos olhares, mas estes passavam apressados assim como os pés dos caminhantes. Uns revelavam medos, outros excitação. Procurei distração nas vitrines, nas mercadorias que o vidro recém limpado deixava transparecer, mas foi em vão. Olhar aquilo me lembrava consumo, e pensar em capitalismo não era o que eu precisava naquele exato momento. Eu queria libertação. Da gravidade, da minha raça. Eu queria ser nada dentro de tudo. Por um momento eu queria que o meu problema maior fosse como o daquela criança que vi, que chorava porque seu doce acabou. Mas aquilo ainda não me prendia, algo sempre me fazia retornar à minhas fraquezas. Continuei caminhando, tomando certa distância do centro. Entrei em uma rua que cri nunca ter entrado antes. A largura da mesma, que era reta e sem saída parecia ir diminuindo, junto com a quantidade de casas. Mas nada ainda. Fui andando, os pés protegidos pelo tênis gritando por um pouco de espaço. O fim daquela rua que por instantes me pareceu infinita estava a poucos passos. Até que algo me fez virar o olhar. Parei de caminhar por algum tempo, não sei dizer ao certo quanto. Os pensamentos fugiram. Minha mente oca. Voltei a andar, o silêncio agora parecia mais forte e meus passos ecoavam. Não podia ser, eu não poderia estar vendo aquilo. Agora eu estava a cinco passos, quatro, dois... ...Uma dor terrível me atingiu, aquele era o meu nirvana, e ao encontrá-lo meu coração não quis me dar a glória. Eu não tive tempo, eu digitei uma mensagem no meu celular ainda, deixei-o aberto. Pedia para que jogassem aquela flor que estava a mais nenhum passo de mim junto com meu corpo. O que me acalmava é que ela iria me pertencer, de qualquer jeito. Agora a gravidade não exerce mais força alguma, ninguém exerce mais força alguma. Respirar se tornou complicado. Uma mão me balança, mas meus olhos pesam. “Acorde, acorde. Está tendo um pesadelo menina?”. Abri os olhos, eu estava de novo em meu quarto presa por minhas fraquezas. Aquele florista, seu estúpido lírio vermelho, nunca, nunca me pertencerá.  

Quando se perde a inocência.

A criança viu o palhaço. Tímida, quieta, ela o admirava. Seu nariz vermelho, sua cara pintada, seu sapato de tamanho indescritível lhe atraiam. Ele emitia sons, mas ela era tão pequena e não podia compreender que as pessoas geralmente riem do que ele diz. Tantas vezes forçadas. A criança continua olhando. Acompanha sigilosamente o momento que ele aperta sua clássica flor-broche que espirra água. Seus olhos brilham, maravilhada. Eu aqui de longe sem nada dizer fico observando aquela criança. A sua inocência. A sua ainda tão vã, mas ao mesmo tempo tão sábia ciência. Mal ela sabe que quando crescer vai achar clichê quando o palhaço sorri. Mal ela sabe que ela vai adoecer sua tão ainda sadia mente conforme pede a sociedade. Mal ela sabe que às vezes, eles riem chorando. Que o que fazem não passa de uma profissão, que ao invés de salvar vidas, salvam expressões de caírem na melancolia. Mal ela sabe que, os reais palhaços somos nós, que, um dia, mesmo sem querer, esquecemos que um dia fomos inocentes.

Estou de volta.

Bom, pessoal. Como vocês sabem, ultimamente está sendo muito difícil manter o blog, até porque com o Facebook fica mais fácil o acesso a textos de diversos gêneros e se deixa meio de lado outras mídias, que é o caso dos blogs. Eu queria tentar de novo, porque sinto falta de postar as coisas por aqui e da interação que eu tinha com vocês. E aí, o que acham?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Relatos de Anny- X

Dois meses sem ele, e isso deveria estar me matando. Mas não. Alguma coisa em mim libera a morfina que necessito para sobreviver e seguir. Ou quem sabe, esta coisa não esteja exatamente no meu interior. Vendi meu apartamento e comprei uma casa de campo. Confortável, espaçosa, com um belo jardim. Nos primeiros dias foi fácil conviver com o silêncio, sem vozes, sem qualquer som a não ser o das folhas. Mas a solidão incomodou. E as flores me davam um certo trabalho. Então contratei um jardineiro. Edgar o seu nome, castanho os seus olhos, me conquistar seu objetivo e sua vitória. Não quero parecer uma adolescente e suas paixões passageiras, eu simplismente deixei que a felicidade me encontrasse. Não posso dizer que o amo, mas algo nele me atrai como se meu maior desejo se concretizasse no seu jeito de andar e segurar as rosas. Que amor ele entrega a elas! O modo como as colhe e me entrega, é incrível! Quando ele chegou ele quase não sorria, fechado e tímido. Mas nada demorou para que ele começasse a teimar em encontrar meu olhar, e me dizer um delicioso olá quando passava.  Eu comecei a retribuir, e o sangue voltou a correr com intensidade em minhas veias. E quando eu havia desistido de acreditar, ele foi o motivo pelo o qual eu tentaria mais uma vez.