sexta-feira, 11 de março de 2011

Relatos de Anny - I



Há alguém no portão. Está me gritando. Mas não ousarei ir atender. Sei que é ele e suas infâmias, querendo dizer que o abandonei. Mas ele se deixou ir. Aos poucos foi se afastando, até que em silencio pediu pra deixá-lo. E com palavras obedeci. Agora cá está no meu portão, choramingando. Dizendo diga que não te perdi, estou pensando: ele jamais me teve. Só teve minha sombra, mas no escuro ela não existe mais.
Mas ele ousa dizer que eu lhe pertencia. Penso novamente em dizer: as pessoas não se pertencem jamais, nem de si são. Agora passei em frente a janela que me mostra o portão, e por descuido ele viu meu vulto através dela. Agora não mais fala, grita. Penso em ligar pra polícia e me livrar do incômodo, mas como sentia prazer em vê-lo se desmanchar. Ali, a minha frente, o espetáculo da desgraça vital estava. E ainda dizem que o amor é bom. Voltando ao que gritava, este agora já se emudecia. Rouco e aparentemente fraco, ele agora estava ajoelhado de fronte o portão, chorando. Talvez neste momento um impulso de piedade tivera me tocado, então como em um assalto relâmpago, saí apressadamente pela porta, e lhe abri o portão. Não era a mesma pessoa. Seus olhos vermelhos, sua face recém surrada pelo toque de suas próprias mãos involuntárias o tornava o que se deve imaginar como contrariedade de algo ou alguém sã. Ele agora se atreve a enrolar seus braços, que outrora me acomodavam, em volta de minhas pernas, como que me puxando. A cena iria se tornar patética, não fosse o telefone de minha residência tocando. Atrevi-me a deixá-lo lá e ir atender o persistente telefone que tocava. Mas não era ninguém. Companhias de seguro jamais serão alguém. Mas quem dera que outro alguém não existisse: aquele que tanto me perturbava. Nunca quis que alguém me amasse a ponto disto, me causava um certo ódio, porque mesmo quando dizemos adeus as pessoas insistem em permanecer? Ferimos, e não há sinais visíveis de que a segunda pessoa da história esteja ferida, a não ser seus gritos e seu choro. Agora quase ouvido pela rua toda. De repente me enxergo reaproximando do portão, meus olhos involuntariamente jorram. Tanto o odeio, mas as lembranças agora tomaram o lugar do ódio em minha mente. -As promessas, os planos- me pego repetindo pra mim mesma em voz alta. O homem ali chorando agora levanta o seu olhar, era como se o que eu tivesse dito fosse a sua força,e era –íamos conhecer o mundo- outra vez minha fala me trai, e o peso de minhas memórias me fazem cair ao chão, ajoelhada. Em frente a aquele dramático agora me encontro, não me diferindo muito de sua condição. Com a visão turva pelo efeito dos olhos já cansados do choro, consigo ainda ver que ele coloca suas mãos para o lado de dentro do portão. O sinal era conhecido, e minha mão foi em direção a dele. Nada dizíamos sufocados pela dor e glória extrema, agora éramos meras cobaias de nossos ainda desconhecidos sentidos. Ele apertou minha mão, que no momento tão gélida estava. A dele estava quente, como sempre foi. Agora não só minha fala, como meus olhos me traiam buscando uma direção ainda imprecisa nos olhos de quem a minha frente estava. E como por surpresa, ambos se encontraram. Uma de suas mãos agora meu tato não mais presenciava, porque com movimentos leves ela agora levava meu rosto em direção ao dele. Eram centímetros nos separando, e soluços estridentes estancados pelo choro nos impedindo de quebrar aquele silêncio que tanto falava. Meus olhos se fecham, minha boca agora toca a dele. Tomada como conseqüência das lembranças de cada momento anteriormente vividos, agora não mais recuo a minhas próprias reações. Aquele ser odiável não deixara de ser jamais o que amava. Voltamos a estaca zero, e o tempo já não corre contra nós .

14 comentários:

  1. seguindo, estarei aqui de vez em quando :D

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  2. *-*
    Passei aqui para lhe seguir e tive uma surpresa, já estava seguindo HAHA.
    Com textos como este, realmente, não poderia deixar de seguir.

    Até mais!

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  3. eu não sei como agradecer *----------*


    até

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  4. Obrigada querida . Visitei o seu , segui o seu e desejo o mesmo! :D

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  5. Ótima postagem, admiro muito as suas palavras, PARABÉNS pelo post,

    Continue postando.

    Bjsss... :)

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  6. Obrigada Anderson *-*

    Elas saem assim do nada, então agradeço por saber admirá-las .

    Sim , sempre postarei!

    Beijos

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  7. Oi Vânia, adorei seu blog, parabéns! Estou seguindo! Visite me depois. Beijos!

    http://fofurisis.blogspot.com/

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  8. Oi flor :D


    Obrigada, sempre farei de tudo pra continuar fazendo com que voce goste então :D

    Sim claro, Beijos

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  9. Oi, muito obrigada pelo comentario!
    estou seguindo!
    beijos

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  10. Oi! por nada flor (:


    obrigada, beijos

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  11. Vânia.
    Você realmente escreve muito bem e com muito bom conteudo. Continue escrevendo. Voce já pensou neste escrito acima, em forma de poesia?

    david@depas.com.br www.depas.com.br
    depas-depas.blogspot.com

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  12. Obrigada. É ótimo ouvir isso, visitei o blog do senhor e é claro que não poderia deixar de elogia-lo,quem me dera escrever como o senhor! Não havia pensado, mas sabe que não é uma idéia desperdiçavel ?

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